quinta-feira

CONSOLO NA PRAIA

Vamos, não chores...

A infância está perdida.

A mocidade está perdida.

Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.

Não tentaste qualquer viagem.

Não possuis casa, navio, terra.

Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,

Em voz mansa, te golpearam.

Nunca, nunca cicatrizam.

Mas e o humour?

A injustiça não se resolve.

À sobra do mundo errado

Murmuraste um processo tímido.

Mas virão outros.

Tudo somado,devias

Precipitar-te, de vez, nas águas...

Estás nu na areia, no vento...

Dorme, meu filho.

“Carlos Drummond de Andrade:

Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade,

e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor e cotovelo,

falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo,

sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação

e mesmo da ação.

Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos.”

Drummond, mineiro, nascido em Itabira, no ano de 1902.

Formado em Odontologia e Farmácia em 1925.

Casou-se com Dolores Dutra de Morais, companheira de

toda a vida. Dois filhos.

Foi professor de Geografia, redator de jornais.

Conciliou as atividades de funcionário público com a de jornalista.

Obras importantes: Alguma Poesia, Brejo das Almas, Sentimento do Mundo, A Rosa do Povo, Claro Enigma, Viola de Bolso.

E outros: Boca de Luar, Corpo, Poesia Errante, O Amor Natural, dentre outros.

Não havia pedras em seu caminho.

Reinventava o cotidiano, com a leveza de um poeta humano,

Largado no mundo, aberto às experiências de tradutor da vida.

O sentimento do mundo povoava seu cérebro, seu corpo, sua alma.

Drummond ,

Duro na queda,

Divino – homem ,

Danado de bom!